Sobre o artista:
O fotógrafo brasiliense Arthur Monteiro iniciou seu interesse
em fotografia em 1997, chegando a lecionar sobre o tema. Fotografando
assuntos diversos como manifestações culturais,
religiosas, arquitetura e política, recebeu vários
prêmios, incluindo um 1º Lugar no Salão de Fotografia
da Universidade de Franca em 2006. Em junho de 2007, participou
de uma exposição no Museu Malraux, na França,
com 10 imagens sobre o cotidiano de Brasília. Atualmente
está voltado ao fotojornalismo e a projetos pessoais, entre
eles a produção da revista online Punctum e ao despertar
fotográfico através de intevenções
urbanas.
Sobre o ensaio:
Vale do Amanhecer
Uma comunidade religiosa de base espírita que foi fundada
segundo as visões de uma mulher, Tia Neiva, , falecida
há 21 anos, e que conta com uma clientela de milhares de
adeptos e que já se expandiu por vários estados
do país.Tia Neiva munida de imaginação religiosa
fora do comum, obteve revelações em sua maioria
derivadas do grande imaginário afro-brasileiro, do espiritismo
e também do catolicismo popular.Desse modo, foi capaz de
ampliar a cosmovisão espírita muito além
do que Alan Kardec, fundador da doutrina, ou mesmo Francisco Xavier,
seu máximo expoente no Brasil poderiam jamais ter imaginado.Exercitando
intensamente sua criatividade mitológica e ritualística,
ela procedeu a realizar uma leitura espírita de um quantidade
de outras tradições religiosas, dentro de uma linha
básica que também pode ser considerada umbandista,ou
afro-brasileira, na medida em que a entidade principal cultuada
no Vale do Amanhecer é um Caboclo (espírito ligado
às matas e que representa o poder espiritual indígena,
mestiço e, por extensão de qualquer brasileiro)
chamado Seta Branca.Essa entidade poderia pertencer facilmente
ao panteão dos cultos afro-brasileiros tradicionais, como
a Jurema, a pajelança, a macumba, além da umbanda;
por outro lado, pode ser igualmente interpretada como uma figura
cristã, na medida em que Seta Branca é descrito
também como um avatar de São Francisco de Assis.
Um dos conceitos básicos do sistema do Vale do Amanhecer
é o do Sétimo Raio, termo empregado nos esquemas
cosmológicos da Teosofia.Tia Neiva é o sétimo
raio do caboclo Seta Branca; Seta Branca, por sua vez, é
o sétimo raio de São Francisco de Assis, que é
o sétimo raio de Cristo; e Cristo é o sétimo
raio de Deus.Dessa forma, Seta Branca não deixa de ser
uma atualização, para a realidade do culto no Brasil,
de Jesus Cristo. Assim o Vale do Amanhecer, que se apresenta com
uma pluralidade de signos e de rituais formando o universo religioso
possivelmente mais complexo de que já tive notícia,
tenta colocar-se, no fundo, dentro desse etho espiritualista classicamente
brasileiro; pode ser visto, como uma das tantas recombinações
desse ethos tradicional a partir das visões de uma única
líder.Todavia, sem romper com a religião dominante,
desfia-a frontalmente ao propor um sincretismo ou paralelismo
com a divindade – Jesus Cristo – que é percebida, aos olhos
dos fiéis católicos e protestantes, como única
e irredutível.
O que mais fascina no Vale do Amanhecer é a imaginação
simbólica ali exercida.Há um número de falanges
de entidades muito superior ao cultuado em qualquer casa de umbanda
ou de espiritismo Kardecista: falanges asteca, maia, inca, egípcia,
indiana, tibetana, chinesa, cristã. As mulheres que pertencem
à falange oriental vestem-se como indianas ; outras se
vestem como egípcias , outras ainda como fadas medievais,
princesas, etc.,todas belamente ornamentadas, com vestes coloridas,
adornos e lenços nos cabelos.Evoca-se, assim, uma espécie
de corte ou aristocracia sacralizada, criada a partir de imaginários
sociais históricos pertencentes a diversas civilizações,
tais como a egípcia, a grega, a inca, a européia
medieval,etc; enfim,, um clima tipicamente "orientalista"
perpassa o Vale como um todo.E os adeptos masculinos, chamados
jaguares, vestem uma capa longa de cor marrom, que lembra os trajes
da aristocracia européia, dos hierofantes de seitas esotéricas
como a maçonaria e a ordem rosacruz, de maestros de orquestra
e dos espíritos ditos malignos ( os Exus pesados) presentes
na macumba e na umbanda.
José Jorge de Carvalho
Antrópólogo
Sobre a obra:
O retrato não é simplesmente a fotografia de alguém.É
outra coisa. A nuance pode parecer mínima, quiçá
insignificante e por mais leve que seja, ela tem um nome: o do
fotógrafo.Uma relação de forças que
se estabelece no momento da foto.
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